Pensando em como devemos buscar o caminho de santidade para um dia participarmos da comunhão dos Santos, trazemos aqui uma breve meditação e recomendação de São Francisco de Sales sobre a necessidade da escolha de um diretor espiritual.
Caso tenha alguma dúvida sobre este ou outros assuntos, fique à vontade para nos contatar através dos comentários ou por mensagem.

Da necessidade de um diretor espiritual para entrar e progredir nos caminhos da devoção
Querendo Tobias mandar o filho a uma terra longínqua e
estranha, disse-lhe: “Vai em busca de algum homem que te seja fiel, que
vá contigo”. É o que te digo também a ti, Filotéia; se tens uma vontade
sincera de entrar nas veredas da devoção, procura um guia sábio e prático que
te conduza. Esta é a advertência mais necessária e importante.
“Em tudo o que fazemos — diz o devoto Ávila — só temos
certeza de estar fazendo a vontade de Deus, enquanto não nos apartamos daquela
obediência submissa, que os santos tanto encomendaram e praticaram tão
fielmente”
Ouvindo Santa Teresa da austeridade e penitencias de
Catarina de Cardona, concebeu grande desejo de imitá-la e foi tentada a não
seguir o seu confessor, que lho proibia.
Entretanto, como se submetesse, Nosso Senhor lhe disse:
“Minha filha, o caminho que segues é bom e seguro; tu
estimavas muito essas penitencias, mas eu estimo mais ainda tua obediência”
Desde então ela devotou-se tanto a esta virtude que, além da
obediência devida a seus superiores, ela se ligou, por um voto especial, a
seguir a direção de um homem prudente e de bem, o que sempre a edificou e
consolou muito. De modo semelhante, já antes e depois dela, muitas almas
santas, que queriam viver inteiramente sob a dependência de Deus, submeteram a
sua própria vontade a de um de seus ministros. É essa a sujeição humilde que
Santa Catarina de Sena tanto encomia em seus diálogos. Foi também a prática da
santa princesa Isabel, que prestava uma obediência perfeita a direção do sábio
Conrado. Nem outro foi o conselho que, ao morrer, deu a São Luís, seu filho.
“Confessa-te a miúdo e escolhe um confessor insigne por sua
ciência e sabedoria, o qual te ajude com suas luzes em tudo o que for
necessário para a tua direção espiritual”
O amigo fiel é uma forte proteção — diz a
Sagrada Escritura — quem o achou achou um tesouro. O amigo fiel é um
medicamento de vida e de imortalidade, e os que temem o Senhor acharão um tal
amigo.
Trata-se aqui principalmente da imortalidade da vida futura;
e, se a quisermos alcançar, convém ter um amigo fiel ao nosso lado, que dirija
as nossas ações com uma mão segura, através das ciladas e embustes do inimigo.
Ele será para nós um tesouro de sabedoria para evitar o mal e praticar o bem de
uma maneira mais perfeita; ele nos dará conforto para aliviar-nos em nossas
quedas e nos dará o remédio mais necessário para a cura perfeita de nossas
enfermidades espirituais. Mas quem achará um tal amigo? Diz o sábio que é aquele
que teme a Deus, isto é, o homem humilde que anseia com ardor o seu
adiantamento espiritual. Se é, pois, tão importante, Filotéia, ter um guia.
experimentado nos caminhos da devoção, pede com todo o fervor a Deus que te
mande um segundo o seu Coração e não duvides nem um instante que ele te enviará
um diretor sábio e fiel, ainda que fosse um anjo do céu, como ao jovem Tobias.
De fato, esse amigo deve ser um anjo para ti, isto é, uma
vez que o tenhas obtido de Deus, já não o deves considerar como um simples
homem. Não deposites a tua confiança nele senão com respeito a Deus, que, por
seu ministério, te quer guiar e instruir, suscitando no seu coração e nos seus
lábios os sentimentos e as palavras necessárias para a tua direção. Por isso
deves ouvi-lo como a um anjo que vem do céu para te dirigir. Ajunta a esta
confiança uma sinceridade a toda prova, tratando-o franca e abertamente e
deixando-lhe ver em tua alma todo o bem e o mal que aí se encontram: o bem será
mais certo e o mal menos profundo; a tua alma será mais forte nas adversidades
e mais moderada nas consolações. Um religioso respeito também deves ajuntar a
confiança, de tal forma que o respeito não diminua a confiança, nem a confiança
o respeito. Confia nele como uma filha em seu pai e respeita-o como um filho
sua mãe. Numa palavra: esta amizade, que deve unir a força com a doçura, tem
que ser toda espiritual, toda santa, toda sagrada, toda divina.
“Escolhe, pois, um entre mil — diz Ávila” — e eu
te digo: escolhe um entre dez mil, porque se acham muito menos do que se cuida,
que sejam capazes deste ofício. Deve ser cheio de caridade, ciência e
prudência; se faltar uma destas três qualidades, a escolha será arriscada.
Repito-te ainda uma vez: suplica a Deus um diretor e, quando o achares,
agradece a divina Majestade; persevera então em tua escolha, sem ir procurar
outros; caminha para Deus com toda a simplicidade, humildade e confiança e tua
viagem será certamente feliz.
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Maria Sempre!
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FONTE: SALES, São Francisco de. Filoteia ou a Introdução à Vida Devota. Editora Vozes, 8ª ed., 1958, p. 30-33.
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Sobre a obra: Este escrito é uma das principais obras de São Francisco de Sales. Um verdadeiro compêndio da vida devota. O livro oferece ao leitor recomendações e exercícios para a boa condução da alma a Deus, à prática das virtudes e da oração. Traz também, avisos necessários contra as tentações mais comuns e o modo de como renovar e conservar a alma na devoção
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