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Com o andar dos tempos, cresceu em Maria a vontade de aparecer, de fazer bela figura. Tinha bom gosto e sabia qual o tecido e o feitio de um vestido que desse realce à sua figura elegante.
Era a sua feminilidade que desabrochava e a semente da vaidade procurava ali o seu terreno.
Confiará a Petronilla: "Eu bem sabia que fazia mal mas [o vestido] novo tinha que ser ao meu gosto porque era eu que o ia vestir e não a minha mãe".
Por aqueles anos, toda se deliciava em acompanhar o pai nos mercados e feiras da aldeia e arredores. Era natural. Com o andar dos tempos, sentia necessidade de alargar o seu horizonte. Valponasca e Mornese eram demasiado restritos.
Os mercados e as feiras davam a possibilidade de contato com muita gente, de ocasião para ver coisas belas e divertidas. Foi numa destas feiras que umas botas de verniz da última moda prenderam o seu olhar. Tanto pediu que o pai acabou por contentá-la.
Ao princípio parecia-lhe ter tocado o céu com aquele presente. Depois, como acontece com aquilo que, avidamente, se deseja, sentiu alguma mágoa. Porque é que tinha insistido tanto para as comprar? Não eram aquelas botas reluzentes que iam acalmar aquele coração sedento e ardente que pulsava dentro de si.
Logo que chegou o dia da confissão, acusou-se daquilo ao confessor como um ato de vaidade: o seu defeito dominante.
O Pe. Pestarino não dramatizou o assunto mas também não o quis minimizar. Maria estava disposta a ceder a compra à sua prima Domingas mas o confessor respondeu: "Não, as botas são tuas e não precisas de te desfazer delas. Vais mas é dar-lhes uma boa carga de sebo para que percam aquele brilho demasiado apelativo".
Aquele foi um dia memorável na vida de Maria. Custou-lhe muito reduzir o brilho das botas mas aquele ato foi um golpe certeiro na vaidade que a queria dominar. Começou decididamente a deixar a via do "aparecer" para se enveredar pelo caminho do "ser".
Esta inversão de marcha é testemunhada por várias pessoas. O seu primo, José Mazzarello, no decurso do processo de beatificação declarou: "Vestia com modéstia sem atender à vaidade". E uma sua antiga aluna: "Recordo como vestia Maria. Sempre limpa mas muito simples".
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Maria Sempre!
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FONTE : GIUDICI, Maria Pia; BORSI Mara. Maria Domenica Mazzarello: Uma vida simples e cheia de amor, Editora Elledici, 2008.
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Sobre a obra:
Os Santos – escreveu Jacques Maritain – são “os verdadeiros educadores da humanidade”. Tornam visível o rosto de Deus na história. Assim foi Maria Domingas Mazzarello, cuja breve vida (1837-1881), quase inteiramente passada entre as colinas do Monferrato, no Norte de Itália, foi toda entregue à educação das jovens, experimentando o extraordinário na trama do ordinário.
A sua espiritualidade é conhecida por todo o mundo e também fora da Família salesiana: Há uma comunidade de monges no Camboja, um grupo de famílias, sem confissão religiosa, na Alemanha, uma Biblioteca Católica, no Brasil que escolheram como patrona esta mulher educadora, sábia e humilde, de coração atento aos jovens mais pobres.
Os santos não só falam de Deus mas revelam-no na sua identidade mais profunda: o amor.
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