Há meios que todos podem e devem empregar e outros
cujo emprego é de mero conselho. Chamam-se os primeiros: meios
gerais e os outros: meios
particulares.
Para chegar à perfeição, devemos empregar os seguintes
meios:
1°) Devemos ser fiéis nas coisas pequenas.
Quer dizer: Devemos procurar evitar também as faltas
pequenas, quem, pois, deseja aperfeiçoar-se, evite toda a palavra mentirosa e
injuriosa; não pronuncie levianamente o nome de Deus; não furte nem
uma parcela do bem alheio, etc. Destarte afasta-se mais o perigo de pecados
graves. Quem não se importa com coisas pequenas, pouco a
pouco cairá em faltas maiores. Santo Agostinho diz: “Queres ser grande? Começa pelo que é
mais pequenino!”.
2°) Devemos exercitar-nos no domínio sobre nós
mesmos.
Jesus Cristo nos exorta a nos abnegarmos de vez em
quando dizendo: “Quem quer seguir-me, abnegue-se a si mesmo”. Reprima-se a
curiosidade da vista, gulodice, etc. Destarte se consegue força de vontade, e
com maior facilidade se resistirá às tentações. Quem assim faz, assemelha-se a
um carvalho robusto que não se verga na tempestade. Diz São Gregório: “Aquele
que de vez em quando se abnega de alguma coisa lícita, com tanto mais segurança
evitará o que é ilícito”.
3º) Devemos invocar a Deus frequentemente
durante o dia e receber amiúde os santos
sacramentos da confissão e da comunhão.
a) Admoesta São Paulo: “Rezai incessantemente!”.
Todos os santos rezaram extraordinariamente muito, sobretudo nas horas
de lazer e quando andavam pelas ruas. Essa oração, muitas
vezes, consistia apenas na repetição de jaculatórias; faziam como Nosso Senhor
no Horto das Oliveiras. O olhar constantemente voltado para Deus afasta as
tentações e angaria novas graças. Sucede-nos então como aqueles que
continuamente privam com um rei; alcançam dele quanto desejam.
b) O sacramento da penitência confere-nos força contra o pecado. A santa comunhão, sendo alimento de nossa alma, é um poderoso meio de santificação.
4º) Devemos ler as vidas dos santos.
Exemplos incitam a imitação. É o que já dizia Santo
Agostinho: “O que estes e aqueles conseguiram, não o poderei também eu
conseguir?” Santo Inácio de Loiola converteu-se pela leitura de biografias de santos.
5º) Devemos observar as regras usuais da
delicadeza e da cortesia.
O que são as balaustradas à beira do precipício e a
cortesia no trato com os semelhantes; porquanto, quem segue as regras da
civilidade, evita muitas grosserias e baixezas e, em numerosas ocasiões de
pecado, mantém conduta irrepreensível. As regras da cortesia significam para o
homem o que são os arcos para o tonel, porque lhe dão firme apoio. A cortesia
granjeia-nos a simpatia dos nossos semelhantes, evita as contendas e nos torna
agradável a vida.
Meios particulares de
perfeição
414. Como se atinge uma
perfeição mais elevada?
Atinge-se uma perfeição mais
elevada pela observância dos conselhos evangélicos praticando a obediência
perfeita, a castidade perpétua e a pobreza voluntária.
1º) A obediência perfeita é a
inteira submissão da própria vontade a um superior. A castidade perpétua
consiste em o homem se abster do casamento durante toda a sua vida, assim como
de tudo que ofenda a inocência. A pobreza voluntária é a renúncia aos bens terrenos.
2º) Chamam-se “conselhos” estas
três virtudes, porque não foram preceituadas por Jesus Cristo, senão
aconselhadas. Chamamo-los “evangélicos” porque Jesus Cristo as recomendou ao
anunciar o Santo Evangelho e ele mesmo os observou. Disse o Divino Salvador ao
jovem rico: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo quanto possuis e dá-o aos
pobres” e mais adiante; Vem e segue-me!”. Discorrendo sobre a indissolubilidade
do matrimônio, disse Jesus, que haviam certas pessoas que, por amor do céu
ficavam sem casar e acrescentou: “Quem puder entender, entenda!”.
3º) A observância dos três
conselhos evangélicos remove os principais obstáculos que se opõem à salvação
eterna. Quem os pratica assemelha-se ao viajante que lança de si tudo quanto é
supérfluo, para tanto mais desembaraçada e rapidamente atingir o seu escopo. Os
três conselhos evangélicos, muito mais radicalmente que a oração, o jejum e a
esmola, destroem a raiz de todas as paixões, que se concretizam na ambição, na
sensualidade e na avareza.
415. Quem é que se obriga à
observância dos conselhos
evangélicos?
Os religiosos obrigam-se à
observância dos conselhos evangélicos. Santo Antão Eremita é o patriarca dos
religiosos. Toda ordem religiosa possui uma finalidade peculiar (tratar de
doentes, instrução da juventude, missões, etc.) e tem seu traje particular.
Muitas ordens religiosas tornaram-se beneméritas da humanidade pelas obras de misericórdia
e pelo cultivo das ciências. Assim como o ginásio e a universidade são lugares
onde se cultiva a ciência perfeita, assim é cultivada, pela vida conventual, a
mais elevada perfeição cristã.
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Maria Sempre!
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FONTE: SPIRAGO, Padre Franz. Catecismo
escolar e popular. Editora SCJ. Taubaté, 1948. Pg. 195-197.
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Sobre o autor e a obra:
Franz Spirago nasceu em 13 de março de 1862, na parte boêmia do leste do distrito de Schönhengst em Landskron (Áustria), onde também frequentou o ginásio, antes de se juntar ao seminário em Hradec Kralové (República Checa), 1880. Em 1884 ele recebeu a ordenação sacerdotal e depois trabalhou como capelão antes de se tornar catequista em Trautenau (Trutnov) em 1888, professor religioso, como era chamado. Ele começou a escrever e publicar e continuou essa atividade desde 1904 como professor no Gymnasium alemão em Praga. Em 1919 se aposentou. Morreu em 8 de fevereiro de 1942, em Praga. O seu catecismo católico, impresso pela primeira vez em Trautenau em 1894, é desenvolvido de forma pedagógica e contemporânea. Foi traduzido para treze línguas. Dois anos depois, Spirago publicou em Trautenau um catecismo católico para a juventude, que desenvolveu em sete edições "trabalhadas com muitas explicações, parábolas, provérbios". Este Catecismo escolar e popular é talvez o trabalho que mais influenciou o método catequético em todo o mundo.
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