Desde sua origem, o matrimônio
foi realmente instituído por Deus. Isto afirma claramente o
Antigo Testamento. O jovem Tobias, orando a Deus antes de seu casamento, diz
muito naturalmente: "Senhor Deus, meu
Pai... criaste Adão do limo da terra e lhe deste Eva por companheira" (Tob 8, 7, 8). O livro dos
Provérbios chama o casamento "uma
aliança divina". Também
no livro do Êxodo, o sexto mandamento divino
protege o casaemento contra a profanação (Ex 20, 14). Eis por que se termina o casamento com essa linda bênção:
"Que o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacob, esteja convosco, que Ele mesmo vos una, e espalhe sobre vós a plenitude de suas bençãos" (Tob 7, 15).
Se procurarmos, porém,
como se formou a concepção da origem divina do casamento, é
preciso remontar às primeiras páginas
do primeiro livro da Sagrada Escritura. O primeiro e o segundo capítulo
do Gênesis proclamam claramente, e com uma
firmeza indiscutível, ser o casamento, na realidade,
uma instituição divina, e não
uma invenção humana.
A) A primeira prova da origem divina
do casamento encontra-se, pois, no primeiro capítulo do primeiro livro
da Bíblia, onde vemos a descrição
da criação do homem e da mulher.
a) Quando se examinam os homens,
notam-se entre eles grandes e múltiplas diferenças:
um é grande, e outro pequeno e; um é
louro, e outro moreno, um é gordo, e outro magro; um é
forte, e outro é fraco, e assim por diante. Há, porém, uma particularidade que é essencialmente mais importante que todas as outras: "há homens e há mulheres".
Coisa
curiosa, há uma força misteriosa e regular que mantém esta diferença num
equilíbrio tal que nascem, mais ou menos, sempre tantos rapazes
e tantas moças; mais exatamente, há um
pouco mais de rapazes, porém a cifra da mortalidade sendo mais
elevada entre estes, a diferença diminui novamente.
Donde
vem, pois, esta particularidade tão
importante da humanidade?
Donde
vem a origem do homem e da mulher?
As
primeiras páginas da Santa Escritura esclarecem-nos sobre esta questão. Foi Deus quem criou separadamente o homem e a mulher,
mas uniu-os, ao mesmo tempo, numa união
santa, e confiou-lhes uma tarefa magnífica.
Escutai as próprias palavras da Escritura: "Deus criou o homem à sua imagem:
criou-o à imagem de Deus;
criou-os homem e mulher. E Deus abençoou-os, e disse-lhes:
‘Sede fecundos, multiplicai-vos, e
enchei a terra’ " (Gn 1, 27-28).
b) Estas palavras da Escritura, porém,
respondem ao mesmo tempo àqueles que perguntam, algumas vezes,
admirados: Como é possível que seja permitido no
casamento alguma coisa que fora do casamento constitui um pecado grave? Não é uma
contradição: ali é permitido, aqui, não é? A coisa não é a mesma em ambos os casos?
A
resposta, porém, é clara, segundo os livros Santos. Fora
do casamento é um pecado grave, porque Deus confiou ao matrimônio a união indissolúvel de um homem e de uma mulher, a conservação da raça humana, e pois só no casamento é
permitido o ato pelo qual nasce uma nova vida humana. Este ato, fora do casamento,
é justamente um pecado grave porque fere o direito
privilegiado do matrimônio, e arruína assim a família.
Ora, isto é que se precisa evitar, a todo o custo.
B) O que temos no primeiro capítulo da Sagrada Escritura não é uma elucubração artificial, mas realmente a vontade de Deus. Isto é a consequência clara do segundo capítulo, pois aí encontramos
a narração minuciosa da instituição do matrimônio (Gn 2, 15-24).
a) O primeiro homem, embriagado pelas energias imensas de sua nova vida, passeia
entre os esplendores da natureza em flor, sua alma freme quase à vista das maravilhas do paraíso terrestre, mas, a si mesmo, parece que falta alguma
coisa: não há alguém a
quem comunicar sua alegria, alguém
para entender suas palavras, não há quem
lhe seja semelhante na terra. E então -
para que tenha um auxílio, um apoio, uma companheira na
vida - Deus criou a primeira mulher.
b)
Mas o que Adão sentia, no instante em que a consciência de suas jovens forças
dominava seu corpo robusto, este desejo de um complemento, de uma compreensão, de uma comunicação de
alma, de um aperfeiçoamento, sente igualmente todo descendente dos dois sexos
da humanidade. Na plenitude de seu desenvolvimento orgânico, o homem e a mulher sentem que lhes falta alguma
coisa, que se encontra no outro sexo. Necessitam de
um complemento que se encontra nas qualidades diferentes de outro sexo, pois só então é que se
realiza o ideal completo do homem. É
nesta união, nesta mescla, neste complemento mútuo dos dois gêneros
da natureza humana, que se realiza aquela unidade dos esposos, cujo exemplo não se encontra no mundo, e do qual a Sagrada Escritura
observa: "O homem deixará seu pai e sua mãe, unir-se-á à sua esposa, e tornar-se-ão uma só carne" (Gn 2, 24).
O
homem faz alguma coisa de análogo quando reúne metais cujas propriedades diferentes se completam mutuamente,
e esta nova mistura, assim obtida, é mais
forte e resistente.
c)
Se assim é, se realmente é
natural, desejável e conveniente que dois gêneros
de seres humanos vivam sobre a terra, como características inteiramente diversas, mas se atraindo reciprocamente, se isto é natural, então podeis julgar, vós
mesmos, meus irmãos, quanto é prejudicial e contrário à natureza o moderno costume que educa as jovens como se fossem rapazes, querendo
transformá-las em tais, enquanto quer fazer dos rapazes moças: forma
rapazes-moças, moças-rapazes, e que suprimindo a diferença
entre os dois sexos, arrebata-lhes justamente aquela força misteriosa de atração,
que tem por objeto formar, na vida social, a
célula mais importante, a fonte de uma renovação incessante da raça
humana, e a garantia de sua propagação: uma nova família.
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Maria Sempre!
Maria Sempre!
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FONTE: TOTH, Monsenhor Tihamer. Casamento e família: sermões e conferências. Editora Vozes Limitada. Petrópolis, 1959. Pg. 21-24.
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Sobre o autor e a obra:
Monsenhor Tóth, o vigoroso pregador, prematuramente desaparecido, realizou uma série de luminosas conferências sobre esse assunto de tão vivo interesse, e que, em nossos dias, assume quase o aspecto trágico de apostasias individuais e de suicídios nacionais. Através de emocionantes capítulos, ele demonstra, com o brilhantismo que todos lhe conhecem, quanto as leis divinas se harmonizam perfeitamente com os anelos nobres da natureza humana, de tal sorte que observá-las é obter a salvação eterna e a felicidade terrena, ao passo que a elas desobedecer é abrir ante os próprios passos a eterna desgraça não só, mas ainda uma vida torturada de sofrimentos."Que floresça e prospere de novo nos matrimônios cristãos a fecundidade consagrada a Deus, a fidelidade sem mancha, a firmeza inabalável, santidade do sacramento e a plenitude de todas as graças do céu"!
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