
No meio da festa de Caná, assistido por Jesus, Maria e os discípulos de Jesus, o vinho falta. Maria, ante a confusão em que se acham os dois esposos, mas plenamente confiante no Poder de Deus, faz-se perante Ele a intermediária de uma súplica.
Deus sempre ligou as suas graças à oração. Sempre pronto a derramá-las convida-nos a pedi-las. Quer, porém, que o façamos confiantes. A mesquinha confiança é prova de uma fé enfraquecida. Daí vem que muitas orações se tornam estéreis e sem êxito.
Para oferecer a Deus o tributo dos nossos lábios há necessidade de estudarmos os momentos favoráveis. Sempre disposto se acha o nosso Deus em nos escutar sem cessar. Ele nos diz: "pede e receberás, aquele que pede recebe".
Servos de um Deus sempre bom para não excetuar ninguém e bastante rico para dar a todos, como ainda vacilamos em suplicar as suas graça, assim para nós como para os outros, a exemplo de Maria? Breve foi a oração de Maria. Deus é bem diferente dos homens. Não exige lavores de oratória, nem preces rebuscadas. Ninguém precisa de sutilezas ou eloquências para tratar com Deus. Uma oração feita com simplicidade e na qual nos limitemos a pedir a Deus o que sabemos ser para a sua glória e para a nossa santificação, ou, ao menos, nada ter de contrário a uma ou a outra, eis o que lhe agrada. Menos valem as palavras nos lábios que os sentimentos no coração. Estes obtêm os favores de Deus.
Ainda por muito fervor que ponhas na tua oração, Jesus parece dizer-te o que disse a Maria, que "a sua hora ainda não chegara" (Jo 2, 4). Se, porém, a tua confiança não vacilar, é certo que essa hora há de chegar.
Alguns suspiros do coração da mãe de Salomão obtiveram de Deus não só um profeta, um Juiz de Israel. "Ana falava no seu coração", diz o texto sagrado (1Sm 1, 13).
Jesus responde a Maria de tal maneira a não lhe dar, parece, a princípio, nenhuma esperança. Todavia, ela não deixa de esperar e para logo obtém o que deseja.
É raro que se ore com perseverança e não seja atendido. O ser importuno aos homens desagrada e fatiga. Ao Senhor, porém, não deixes de pedir, que não se fatigará nunca em te escutar.
Indigno se torna diante de Deus quem lhe prescreve um tempo determinado para receber de sua bondade os sensíveis efeitos do que lhe pede.
Verdade é que muitas vezes, malgrado os reiterados momentos de súplica, Deus não concede logo o que lhe pedem. Nunca deixa, porém, de conceder-nos algo mais necessário ainda do que lhe pedimos.
Roga São Paulo que o livre Deus de uma tentação importuna, todavia é sempre assaltado pela mesma tentação. Pelo fato, entretanto, de haver pedido reiteradamente, Deus lhe concede uma graça tão grande que para ele é a fonte de maiores méritos. Porventura, não fora assim exaltado o Apóstolo?
Se muitos anos faz que suplicas a Deus a cura de uma enfermidade do corpo, pode bem ser que não a conceda. Mas terás como efeito da tua oração uma paciência grande para suportá-la, e serás assim exaltado.
Muitas vezes, tal coisa que nos parece boa e suplicamos a Deus, se no-la concedesse Deus, grande mal nos faria. Se, ao contrário, a recusa, é tão só porque nos ama. Devemos ter em conta muito mais as graças de salvação e santificação do que as puramente temporais.
Ora, destas últimas Deus concede até aos seus maiores inimigos, ao passo que das outras Ele reserva só para os seus eleitos.
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Maria sempre!
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FONTE: Religioso Anônimo. Imitação de Maria. Cultor de livros, 2014. Pg. 221-224.
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Sobre a obra: A Imitação de Maria foi escrita por um Cônego Premonstratense da Abadia de Marchtal, na Baviera. O manuscrito, do qual não consta o nome do autor, foi encontrado pelo Cônego Sebastião Sailer, da mesma Abadia, e publicado em 1764. A segunda edição latina apareceu em 1768. Nela declara o Cônego Sailer que juntou várias adições ou ampliações à primeira edição de 1764. Igualmente promete publicar a tradução alemã do livrinho, o que fez em 1769. Novas edições datam de 1772 e de 1787.
Outra tradução da edição de 1764 apareceu em Colônia em 1773. Uma terceira tradução foi feita por Michael Schullere e publicada por Fred. Pustet em 1876 e em 1881. A tradução francesa apareceu em 1876, a espanhola em 1885, a flamenga em 1896. Nos Estados Unidos foi publicada uma tradução inglesa nos Annals of St. Joseph. No Brasil, a 1ª edição saiu a lume em 1934 e a 3ª, em 1949.
O título original é: "Kempensis Marianus sive Libellus de Imitatione Mariae Virginis et Matris Dei".
Cônego Guilherme Adriaansen, O. Prem.
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