DE COMO É NECESSÁRIO FORTALECER A ALMA CRISTÃ NA FÉ E NA ESPERANÇA, QUANDO TOPA COM AS MAIS ADVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA
Os apóstolos reconheceram em Jesus o Filho do Deus vivo. Mas o tempo da sua paixão, infiéis à confissão de sua fé, eles a dissimularam e fugiram (Mt 26, 56).
Tal não se deu, porém, com Maria.
Até o Calvário ela acompanhou Jesus, reconhecendo-o aí como o seu Redentor, certa de que ele ressuscitaria.
Após a morte de Jesus, dois dos discípulos, segundo alude São Lucas, não tinham mais esperanças de ver realizar-se o que predissera Jesus (Lc 24, 24).
Maria, porém, sem experimentar a mínima perturbação, perseverou em crer e esperar firmemente que Jesus, a quem ela vira morrer no opróbrio, ressuscitasse na glória, submetendo o mundo ao seu Evangelho.
Esta fé que Maria sustentou nas suas provações pela firmeza do seu princípio tem de ser a regra da tua fé, devido à veracidade do próprio Deus.
Se os ímpios que enchem o mundo não te dão ocasião para que de público declares a tua fé, ao menos não te surpreendas se o inimigo da tua salvação procurar abalar por meio de dúvidas que te há de sugerir sobre as verdades reveladas.
Firme "e forte na fé, resiste com coragem" (1Pd 5, 9), sem examinar as suas sugestões, e "ele logo fugirá para longe de ti" (Tg 4, 7).
Refuga de pronto, diante do "Deus da Verdade", qualquer dúvida que te chegue ao espírito. Dando-lhe uma desaprovação franca, generosa, sincera, verás aumentar em ti a fé. E em ti se fortalecerá. Sobretudo nas adversidades é que o demônio procura espalhar trevas no teu espírito. Acautela-te, porque então ele te poderá levar a duvidar da justiça, da bondade, do poder do adorável Deus que te aflige.
Procura recordar o que Deus disse nos seus livros santos sobre a necessidade dos sofrimentos, da glória que se lhes seguirá, dos desígnios de Deus ao enviar aflições ao homem, mesmo ao mais fiéis dos seus servos. "Deus não muda". O que disse permanecerá, pois, para sempre e verdadeiro. A palavra de Deus é tão imutável como o próprio Deus.
Assim, em qualquer tentação que te aches, seja de dor ou amargura, aridez ou desolação, toma por norma a esperança generosa e perseverante de Maria. Que a tua alma, longe de se deixar abater, se escude nesta virtude, cujo fundamento é a fidelidade de Deus nas suas promessas: "Espera contra a própria esperança" (Rm 4, 18), tal qual Abraão outrora, "plenamente convencido de que tudo o que Deus prometeu pode fazê-lo" (Rm 4, 21). Ele é o teu Criador, o que declarou que não abandonaria a sua obra e em ti seu olhar estaria fixo.
Soberano mestre é o teu Deus, e Senhor da natureza inteira. Nada lhe é impossível, nem mesmo difícil lhe é.
O Senhor é o sustentáculo dos seus servos, eles não poderão duvidar disso, por pouco que reflitam nas promessas de sua Aliança (Sl 24, 14).
Ainda perigosa e difícil que seja a tua situação, porventura não te basta a Providência divina cheia de bondade infinita como fundamento da tua esperança?
Quantas vezes não te assegura Deus por boca dos seus apóstolos e profetas que "exalta", que "sustenta", que "consola", que "há de salvar, enfim, aquele que nele espera!"
Implora confiante o seu auxílio. Nem duvides nunca que a sua misericórdia te venha arrancar ao triste estado em que te achas, ou que te sustente e proteja até o fim para a sua glória e a tua salvação. Deus algumas vezes permite que a alma cristã se veja em extremos terríveis, a fim de que ela melhor conheça o quanto pode uma viva esperança em Deus. Demais, ele quer assinalar por tal meio todo o seu amor paternal. Uma virtude fortemente provada ganha bem mais o coração de Deus que a mais extremosa devoção.
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Maria Sempre!
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FONTE: Religioso Anônimo. Imitação de Maria. Cultor de livros, 2014. Pg. 286-289.
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Sobre a obra: A Imitação de Maria foi escrita por um Cônego Premonstratense da Abadia de Marchtal, na Baviera. O manuscrito, do qual não consta o nome do autor, foi encontrado pelo Cônego Sebastião Sailer, da mesma Abadia, e publicado em 1764. A segunda edição latina apareceu em 1768. Nela declara o Cônego Sailer que juntou várias adições ou ampliações à primeira edição de 1764. Igualmente promete publicar a tradução alemã do livrinho, o que fez em 1769. Novas edições datam de 1772 e de 1787.
Outra tradução da edição de 1764 apareceu em Colônia em 1773. Uma terceira tradução foi feita por Michael Schullere e publicada por Fred. Pustet em 1876 e em 1881. A tradução francesa apareceu em 1876, a espanhola em 1885, a flamenga em 1896. Nos Estados Unidos foi publicada uma tradução inglesa nos Annals of St. Joseph. No Brasil, a 1ª edição saiu a lume em 1934 e a 3ª, em 1949.
O título original é: "Kempensis Marianus sive Libellus de Imitatione Mariae Virginis et Matris Dei".
Cônego Guilherme Adriaansen, O. Prem.
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