
E, para que a humanidade regenerada, isto é, a santa Igreja, não permanecesse sem sacrifício até a consumação dos séculos e sim possuísse o mais excelente dos sacrifícios, para aplicar a cada membro da Igreja o preço da Redenção, Jesus Cristo perpetuou o Sacrifício cruento da Cruz, instituindo na véspera de sua morte, o santo Sacrifício da Missa.
Todas estas explicações foram determinadas pelo Concílio de Trento: Segundo o testemunho de S. Paulo, o sacerdócio levítico do antigo Testamento não atingia e nem podia atingir a perfeição. Era então necessário, e o Pai da misericórdia assim o queria, que surgisse um sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, que pudesse completar e aperfeiçoar aqueles que deviam ser santificados. E este sacerdote, Jesus Cristo Nosso Senhor, depois de se ter oferecido a seu Pai sobre o altar da Cruz, não queria, morrendo, deixar extinto o sacerdócio. Foi por isto que, na noite em que foi entregue, deu à santa Igreja, sua esposa querida, um sacrifício visível, segundo as exigências da natureza humana.
Este sacrifício devia perpetuar o Sacrifício cruento que Jesus Cristo ia oferecer sobre a Cruz; devia perpetuar sua memória até o fim dos tempos, e, por sua virtude salutar, nossos pecados quotidianos deviam ser perdoados. Deste modo, Jesus Cristo declarou-se sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque oferecendo a seu eterno Pai seu Corpo e Sangue sob as aparências de pão e de vinho, que deu a seus apóstolos também sob as mesmas espécies, instituindo-os, então, sacerdotes do novo Testamento. E dizendo as palavras: “Fazei isto em memória de mim”, ele lhes ordenou e aos seus sucessores no sacerdócio, que os oferecessem em sacrifício.
A santa Igreja nos ensina que, na última Ceia, Jesus Cristo não só mudou o pão e o vinho em seu Corpo e em seu Sangue, mas também ofereceu-os a Deus seu Pai, e instituiu e ofereceu pessoalmente o Sacrifício do novo Testamento, afim de que se reconhecesse nele este sacerdote do qual canta o salmista: “O Senhor jurou e não se arrependerá de seu juramento. És sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 100, 4). Muito contrário ao costume de sua época, Melquisedeque não imolava animais como faziam Abraão e outros patriarcas, mas, por inspiração do Espírito Santo, levantava o pão e o vinho para o céu e os oferecia por meio de cerimônias e orações especiais. Assim tornou-se a figura de Jesus Cristo e seu Sacrifício é o símbolo da nova Lei.
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Maria Sempre!
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FONTE: COCHEM, Martinho de. Explicação da Santa Missa. Tipografia de São Francisco, 1914. 2ª. Ed. Pg. 11-13.
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Sobre o autor: O venerável Martinho de Cochem foi padre capuchinho, viveu entre 1630 a 1712 na Alemanha, tendo nascido na pequena cidade de Cochem, próximo ao rio Mosela. Distinguindo-se por sua extraordinária piedade e brilhante inteligência, lecionou aos seus irmãos de ordem franciscana. Sobreviveu à terrível peste que assolou a região no ano de 1666 e uma vez que, por férias inesperadas dos jovens a quem lecionava que tiveram, por conta da peste, de voltar para casa, Martinho escrevera um catecismo popular no intuito de instruir o povo católico nos princípios da santa religião. Tendo seus escritos impressionado os seus superiores, recebeu ordem desses para abandonar o Magistério e se dedicar exclusivamente à edição de livros e escritos católicos que estivessem ao alcance de todos. Os arcebispos de Mongucia e Treveris o encarregaram de pregar missões em quase todas as freguesias de suas dioceses. Obediente às ordens de seus superiores, Martinho era pronto ao sacrifício de instruir os fiéis, pregar pela salvação das almas, procurando transmitir com especialidade aos seus inúmeros ouvintes um pouco da faísca que era o seu amor ao Santíssimo Sacramento, inspirando muitos a assistir com devoção ao Santo Sacrifício da Missa, ficando convicto para eles de que o que se passa no Altar é o próprio sacrifício da Cruz.
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